Conversa com PATRICIA ANDRADE
Entre cidades…
(por Vlad Tepes)
Entre cidades…
(por Vlad Tepes)
A musica é um terreno sem
limites para explorar, e os Portugueses de Sinistro demonstram-nos isto
com seu talento. O ultimo album, o inclassificável "Semente" (editado no 8 de Abril na Season of Mist),
consegui repelir novas barreiras. Para iluminar nossa luz, fui encontrar Patricia
Andrade, vocalista da banda. Aqui encontram suas palavras... em claro/escuro...
Vlad Tepes: Cara Patricia, tendo descoberto Sinistro um ano atrás e ter sido mesmo seduzido pelos seus universos, essa entrevista contigo é importante para mim. Proponho aproveitar o tempo para falar sobre a artista que tu és, em primeiro lugar sobre o teu papel fundamental no seio de Sinistro. Depois téras a oportunidade de nos contar qual artista és além desse "sinistro" círculo, se quiseres claro.
Sinistro publicou
recentemente seu segundo disco "Semente"
no 8 de Abril, verdadeiro tesouro em termos de contrastes que aparece longo para
domesticar e circunscrever. Qual é teu olhar sobre este álbum
depois de alguns meses com algum recuo? Como seria possível o qualificar objectivamente/subjectivamente para pessoas que n o conhecem?
Patricia Andrade: Desde já agradeço o
cumprimento. Definindo o álbum “Semente”,
diria que é feito de harmonias e caos, de luz e sombra, de imagens sonoras. Uma
viagem.
Vlad: "Semente" é a primeira realização
como entidade oficialmente unificada em relação a formação. Foi uma passagem simbólica ou um continuum
natural para ti?
Patricia: Quando gravei o EP “Cidade” com Sinistro, os nossos imaginários
cruzaram-se, fizeram todo o sentido. Foi uma colaboração com a qual me
identifiquei bastante e que na altura me recordo de pensar que seria muito bom
dar continuidade a este encontro.
E
aconteceu naturalmente. A banda convidou-me para fazer parte do projecto e
aceitei. Ouve essa formalidade, mas a partir daí todo o processo fluiu. Posso
dizer que antes do álbum ser “Semente”
já me sentia em Sinistro.
Vlad: Três videos foram realizados para ilustrar "Semente" – Relíquia, Partida e Semente – com cada vez uma visão atípica e muito forte. Parece significar a importancia da dimensão visual no seio da arte de Sinistro. Como atriz, penso que não deves ser estrangeira a isto... pensas que é pertinente dizer isso?
Patricia: A dimensão visual é muito
importante para Sinistro. Sobretudo pela possibilidade de
colaborar e partilhar visões, estéticas com outros criadores. Os vídeos são
espelho dessa vontade. O José Dinis (realizador) foi importantíssimo no
processo estético. Falámos a mesma linguagem e foi uma partilha de ideias, uma
escuta mútua.
Como actriz, considero elementar
o lado estético, neste caso as imagens, não só para ilustrar como também
complementar. Tudo no mundo, desde a Arte às coisas mais mundanas se manifestam
através de imagens, de estéticas, reflecte, na maior parte das vezes o que está
por detrás delas.
Vlad: Sinistro estabelece e desenvolve verdadeiros paisagens sonores, que parece na minha opinião a confluência entre introspecção e contemplação: parece-me que as emoção s projectam-se na paisagem, tal como ele dissolve-se dentro do psique do ouvinte. A este título, "Semente" constitui uma perfeita demonstração! O que pensas de tal pensamentos?
Patricia: Como referi anteriormente, pode dizer-se que é uma viagem e com tudo o que implica. Contemplação, introspecção, uma viagem que reflecte o que se vê.
Vlad: Depois da exploração conceptual de "Cidade" sobre a cidade de Lisboa, consideres "Semente" como uma obra
profundamente enraizada na cultura e na alma portuguesas?
Patricia: Sim. “Semente”
continua a visitar imagens, pessoas do quotidiano mas de uma forma mais
interior, mais reflexiva. Simplificado: o EP “Cidade” é de fora para dentro, “Semente”
é de dentro para fora. A cultura portuguesa vai estar sempre presente. Somos
portugueses, vivemos em Portugal, há um estado, uma vivência da qual não nos
podemos distanciar, é nossa. Seja no nosso quotidiano de acções simples, seja na
forma como vemos o mundo. Pode não estar ilustrada de uma forma evidente,
icónica mas a essência está sempre presente.
Vlad: "Cidade" foi a primeira colaboração entre
todos os membros da formação
atual, e havias estatuto de "guest" à luz do título "Sinistro & Patricia Andrade". Como
produziu-se este encontro? Qual é teu olhar sobre este primeiro registro comum?
Patricia: Inicialmente Sinistro eram três músicos: Rick Chain (guitarrista),
Fernando Matias (baixo/produtor) e Paulo Lafaia (baterista). Depois entrei eu e
de seguida o Ricardo Matias (guitarrista).
O
Rick Chain (guitarrista) foi ver um concerto de Pedro e os Lobos
no qual eu era vocalista na altura. Mais tarde surgiu o convite para colaborar
no EP “Cidade”. Eu já conhecia o
Fernando Matias (baixista/produtor) e já tinha colaborado pontualmente em
gravações que o Fernando tinha produzido. Digamos que já existiam referências
de ambas as partes. E numa tarde, numa esplanada lisboeta, o Rick e o Fernando
falaram do EP e da vontade de fazermos experiências em conjunto, dando-me total
liberdade criativa. O EP estava praticamente fechado a nível de composição e
sobre essa mesma composição comecei a escrever. Fomos para estúdio e como me
foi dito, a liberdade foi total. E daí nasceu “Cidade”, da confiança, de um encontro de universos que pareciam
distintos e eram tão próximos.
Vlad: Como eu dizia antes
"Cidade" constitui um
conceito-EP sobre a magnifica cidade lisboeta e aparece-me como um pedaço
particularmente evocativo. Jà tem pensado desenvolver
esse conceito com um álbum inteiro e/ou um
complemento cinematográfico?
Patricia: Não sei se faria sentido
desenvolver e apresentar como um álbum. O tempo do “Cidade” foi aquele tempo e foi fundamental para Sinistro, onde Sinistro se encontra actualmente. Há
coisas que têm o seu tempo e espaço e são especiais nesse momento. Faz sentido
reproduzi-las, mantê-las vivas. Desenvolvê-las… talvez já tenham dito tudo o
que queriam dizer. No entanto, como se diz em português, uma expressão muito
popular: “o futuro a Deus pertence”.
Já
como componente cinematográfica: ficaríamos muito lisonjeados se alguém
pensasse como um objecto artístico a desenvolver cinematograficamente. A Cidade I e Cidade II são músicas muito especiais para Sinistro
talvez por isso, para já queremos mantê-las vivas tocando-as.
Vlad: A alma portuguesa é particularmente complexa e possui sua propria identidade, especialmente na sua maneira de reatar os temas do amor, da morte e da melancolia. Em relação com isto, como percebas a musica de Sinistro? Como a sentes tecida a esta alma atípica?
Patricia: Entrando directamente no cliché de que somos um país de poetas e que os temas que nos são mais próximos são os referidos, Sinistro não foge à regra.
Penso que não deixam de ser temáticas universais, mas sentidas, retratadas de formas diferentes. E aí entra a cultura de um país. Sinistro não pode fugir à herança da sua cultura. É um estado interior colectivo. Amor, Saudade, Memória, Morte, Melancolia. Estes “sentir” estão directa ou indirectamente nas paisagens sonoras, nas letras, na voz, no seu todo.
Penso que não deixam de ser temáticas universais, mas sentidas, retratadas de formas diferentes. E aí entra a cultura de um país. Sinistro não pode fugir à herança da sua cultura. É um estado interior colectivo. Amor, Saudade, Memória, Morte, Melancolia. Estes “sentir” estão directa ou indirectamente nas paisagens sonoras, nas letras, na voz, no seu todo.
Vlad: A musica portuguesa é um património precioso com uma expressão única neste mundo. Alguns exemplos: Amália Rodrigues, Moonspell, Madredeus, Ava Inferi, Ricardo Ribeiro… O que pensas desses artistas que pertencem ora à esfera clássica, ora à uma franja mais contemporânea? Quais artistas gostarias de realçar aqui?
Patricia: Todos eles são importantes. Amália Rodrigues é
obviamente um nome incontornável para que o fado, a musica portuguesa se
destacasse no mundo. Madredeus inovou, reinventou o conceito de música tradicional/fado.
Moonspell
afirmou-se nobremente dentro do metal com alma portuguesa. Destaco estes três
exemplos porque são os que conheço melhor. E todos os exemplos referidos
fizeram com que amantes de música ficassem a conhecer melhor a nossa cultura. A
música é poderosa e bela por isso.
Vlad: Voltamos um bocadinho para trás com o primeiro álbum de Sinistro. E a única gravação sem ti e é quase totalmente instrumental. Como o vejas e tens um apego particular com ele?
Patricia: Ouvi o primeiro álbum depois do convite. Já tinha ouvido falar mas não tinha ouvido. Foi um álbum que à medida que ia ouvindo fui descobrindo. Ruas Desertas e O Dia Depois do Meu Funeral ficaram no ouvido. Fui gostando aos poucos. O meu gosto musical não é particularmente pesado.
Vlad: Sinistro percorrou e
percorre ainda toda uma parte da Europa. Vocês fizeram escala no Roadburn tal
como varias representaçãos em Portugal. Como viveste e o que sentiste durante esta turnê?
Patricia: Desde do lançamento do álbum,
que aconteceu em Lisboa no Sabotage Club até ao final da tour no Roadburn foram
maravilhosas experiências e todas positivas. Sinistro,
antes dessas datas só tinha feito dois ensaios gerais abertos. Nunca tínhamos
tocado ao vivo. Foi toda uma experiência. Foram as primeiras datas, ainda estás
a tomar consciência, a adaptares-te, a sentir tudo e ao mesmo tempo uma
dormência. Não sei explicar, definir. Há coisas que não se explicam. Só posso
dizer que há felicidade nisso.
O
Roadburn foi o culminar, o apogeu. Estás num festival de culto, com bandas que
conheces, outras já ouviste falar. E estás ali. E de repente entras em palco
com sala cheia e não esperavas! E no fim, não te lembras, porque é tudo tão
grandioso, a energia, as pessoas, o momento. Foi uma experiência que não sei
descrever, vai para além do racional. É um ritual, uma comunhão e nem sempre
isso acontece. Sobretudo quando o público não conhece a banda. O Roadburn foi
especial.
Vlad: Sinistro tocaram no 11 de
Abril 2016 em Paris pela primeira vez. Que lembrança tens deste concerto ao
mesmo tempo brilhante e confidencial?
Patricia: Paris. Foi um concerto intimista. Poucas pessoas.
Mas foi um concerto com energia forte, presente. A minha experiência em palco é
no teatro. Já representei para duas pessoas. Pode haver 1000 pessoas e não
acontecer nada. Pode haver 15 e acontecer tudo. Quando a energia e comunicação
se estabelecem é isso que faz acontecer algo ritualístico. Em Paris isso
aconteceu.
Vlad: No palco as tuas interpretaçãos são impregnadas da tua
postura de atriz. Essa dimensão é poderosa e alimenta perfeitamente os universos
musicais desenvolvidos por Sinistro. Qual é a articulação e os pontos comuns entre
ser atriz e cantora para ti?
Patricia: O
facto de ser atriz foi fundamental. A consciência do corpo, da voz. Não é
possível dissociar. A minha experiência enquanto atriz permitiu-me vocalizar,
verbalizar o que sou em Sinistro. Faz parte. Se estivesse em Sinistro
há 20 anos atrás não seria a mesma coisa. Era uma caixa fechada com um laçarote
a cantar. Tenho 40. O crescimento, a experiência como atriz e pessoa é o
resultado.
Vlad: A propósito do tipo de
interpretação de
Sinistro, acho que varios pontos são importantes para notar, començando com as
projecçãos no fundo do palco. Algumas bandas contentam-se de fazer um certo
enchimento apesar da iniciativa de Sinistro que gera uma verdadeira coerência
entre som e imagem. O que querias dizer sobre isto?
Patricia: Como referi anteriormente para Sinistro o
vídeo é uma componente muito importante. O diálogo entre a música e a imagem é
algo onde nos queríamos e queremos focar. Que possa traduzir em imagens o que
tocamos, um diálogo entre a música e imagem.
Vlad: No palco Sinistro
apresenta uma habilidade vocal e instrumental cuidada e com muito precisão,
como se a banda havia encadeado as turnês desde muito tempo. Como é que
chegarem e como chegaste com tanto domínio?
Patricia: Todos nós tivemos bandas no
passado (eu, mais “noviça” na música). Foram experiências muito importantes
para que, no presente possamos ter uma maior consciência de tocar e estar em
palco. Digamos que Sinistro ao vivo é isso mesmo: a
experiência que todos foram adquirindo ao longo dos anos com outras bandas,
outros projectos e ensaios semanais para desenvolver e apurar o que foi
produzido em disco. Experiência, dedicação e muito trabalho.
Vlad: Se havia uma palavra, uma
frase ou uma imagem que poderia representar Sinistro na tua opinião, o que
seria?
Patricia: Comunhão.
Vlad: Como é que imaginas e
querias o futuro da banda? Desejarias partilhar connosco outros projectos
musicais e/ou extra-musicais?
Patricia: Não penso muito em termos
futuros. O que Sinistro está a viver neste momento é
único e especial. Estou a viver estes tempos bonitos e a desfrutá-los de uma
forma tranquila, consciente. Já existe um esboço do próximo álbum e será
trabalhar nesse sentido com a mesma entrega e Amor que foram feitos os
anteriores. Relativamente a outros projectos, o tempo dirá. O foco está no
Presente, em Sinistro.
Vlad: A partida, tu és uma
atriz (e ainda hoje, penso eu) e vieste explorar a arte musical num segundo
passo. Como se passou tal percurso?
Patricia: O percurso como atriz surgiu antes da música. Sempre
gostei de música e de cantar, no entanto os projectos surgiram mais tarde. O primeiro
projecto com temas gravados foi com Volstad, a minha primeira banda. Existiu sempre uma vontade de
estar na música. E o percurso foi acontecendo sem grandes expectativas. E foi
havendo encontros com pessoas que queriam criar, desenvolver projectos. Intimist
foi outro projecto que aconteceu anos mais tarde que foi muito importante e
tenho especial carinho porque foi espontâneo e o primeiro cantado em português.
Depois seguiu-se Pedro e os Lobos em que tive a oportunidade de estar em palco como
vocalista. Todos eles em registos diferentes musicalmente falando mas
enriqueceram-me bastante como vocalista.
Vlad: Agora
centremo-nos sobre o teu canto, se tu quiseres. Não quero ser demasiado
elogioso mas acho que ele tem uma qualidade rara e uma complexidade
excepcional; como aliás jà sabes, no palco ele propaga-se duma
maneira muito especial. Tens certas fontas de inspiração, musicais ou
extra-musicais?
Patricia: Obrigada
mais uma vez Vlad pelo elogio. Existem inspirações. Na música existem várias: Diamanda Galás, PJ Harvey, Jarboe, Maria Callas, Bach, Glenn Gould, Nick Cave, Type O Negative, Tom Waits.
São alguns dos artistas que tenho muito respeito e são profundamente
inspiradores. Interpretam, vivem e sentem. Na literatura Sartre
pelo modo como escreve, descreve, as palavras ecoam de uma forma muito forte. E
depois, não menos importante, as pessoas com que me cruzo nas ruas, as
histórias que oiço, são tudo inspirações. A “escuta” é uma forma de te
inspirares. Se estiveres atento ao que te rodeia muita coisa te pode inspirar.
Vlad: Encaminhamos-nos
a pouco e pouco até ao fim desta entrevista. Qual é a pergunta que gostarias que te fizesse? (se quiseres
podes respondê-la!) Em contrapartida qual é a pergunta que não se pode
perguntar-te?
Patricia: Não sei responder J
Setembro 2016,
Dirigida por Vlad Tepes.
Quero agradecer Patricia
- com gratidão e calor -
para todo seu envolvimento
na realização dessa entrevista.
Dirigida por Vlad Tepes.
Quero agradecer Patricia
- com gratidão e calor -
para todo seu envolvimento
na realização dessa entrevista.
Une conversation avec PATRICIA ANDRADE
Entre cidades…
(par Vlad Tepes)
Entre cidades…
(par Vlad Tepes)
La musique est un champ
d'exploration sans limite, et les Portugais de Sinistro nous le
démontrent avec talent. Leur dernier opus en date, l'inclassable "Semente"
(édité le 8 avril dernier via Season of Mist), aura encore repoussé certaines
barrières. Pour éclairer notre lanterne, je suis donc allé à la rencontre de Patricia
Andrade, vocaliste de la formation. Voici ses mots... en clair/obscur...
Vlad Tepes : Chère Patricia,
ayant découvert Sinistro il y a près d’un an maintenant, et ayant été par cette
occasion littéralement envouté par ses univers, cette entrevue avec toi me
tenait particulièrement à cœur. Je te propose donc de prendre un petit temps
pour échanger autour de l’artiste que tu es, tout d’abord pour ton rôle capital
au sein de Sinistro. Puis tu auras l’opportunité de nous narrer l’artiste que
tu demeures au-delà de ce cercle "sinistre", si tu le désires bien
entendu.
Sinistro a publié récemment son
second opus "Semente" le 8
avril dernier, véritable mine de contrastes demeurant longue à apprivoiser et à
circonscrire. Quel regard portes-tu sur cet album avec ces quelques mois de
recul ? Comment pourrais-tu le qualifier objectivement/subjectivement à
des personnes qui ne l’auraient pas encore découvert ?
Patricia Andrade : Tout d’abord je
te remercie pour le compliment. Pour définir l’album “Semente”, je dirais qu’il est composé d’harmonies et de chaos, de
lumière et d’ombre, d’images sonores. Un voyage.
Vlad : "Semente" est la toute première réalisation en tant qu’entité
officiellement unifiée en termes de line-up. Est-ce un passage symbolique ou
bien un continuum naturel ?
Patricia : Quand j’ai enregistré l’EP “Cidade” avec Sinistro, nos imaginaires se sont croisés, ils ont pleinement fait
sens. Ce fut une collaboration dans laquelle je me suis beaucoup reconnue et je
me souviens penser à l’époque qu’il serait bon de poursuivre cette rencontre.
Et cela s’est passé
naturellement. Le groupe m’a invité à faire partie du projet et j’ai accepté.
Il y a eu cette formalité, mais à partir de là tout le processus s’est déroulé
de manière fluide. Je peux vraiment dire qu’avant que l’album soit “Semente” je me sentais déjà faire partie
de Sinistro.
Vlad : Trois vidéos ont été réalisées pour
illustrer "Semente" – Relíquia, Partida
et Semente – avec à chaque fois une
vision atypique et très forte. Ceci semble signer l’importance de la dimension
visuelle au sein de l’art de Sinistro. En tant qu’actrice, je pense que tu ne
dois pas y être étrangère… est-il pertinent de dire cela ?
Patricia : La dimension visuelle est très importante pour Sinistro. Surtout dans la
possibilité de collaborer et de partager des visions, des esthétiques avec
d’autres créateurs. Les vidéos sont le reflet de cette volonté. José Dinis (le
réalisateur) fut d’une grande importance dans le processus esthétique. Nous
parlons le même langage et ce fut un partage d’idées, une écoute mutuelle.
En tant qu’actrice, je
considère comme élémentaire l’aspect esthétique, dans ce cas précis les images,
pas seulement pour illustrer mais aussi pour compléter. Tout dans le monde, de
l’art aux choses plus banales se manifestent par le biais d’images,
d’esthétiques, reflètent, la plupart du temps ce qu’il y a derrière elles.
Vlad : Sinistro créé et développe de
véritables paysages sonores, semblant selon moi à la confluence entre
introspection et contemplation : il m’apparait que le ressenti se projette
dans le paysage, au même titre que ce dernier semble se fondre dans le
psychisme de l’auditeur. A ce titre, "Semente"
en constitue selon moi une complète démonstration ! Que penses-tu de telle
réflexion ?
Patricia : Comme je l’ai
mentionné avant, nous pouvons dire qu’il s’agit d’un voyage avec tout ce que
cela implique. Contemplation, introspection, un voyage qui reflète ce qui est
visible.
Vlad : Après l’exploration conceptuelle de
"Cidade" autour de la ville
de Lisbonne, considères-tu "Semente"
comme une œuvre profondément enracinée dans la culture et l’âme
portugaises ?
Patricia :
Oui. “Semente” continue à parcourir
des images, des personnes du quotidien mais sous une forme plus intérieure,
plus réflexive. Pour simplifier : l’EP “Cidade” va de l’extérieur vers l’intérieur, “Semente” de l’intérieur vers l’extérieur. La culture portugaise
sera toujours présente. Nous sommes portugais, nous vivons au Portugal, il y a
un état, une expérience avec laquelle nous ne pouvons nous distancier, c’est la
nôtre. Que ce soit dans les simples actes de notre quotidien, que ce soit dans
la manière dont nous voyons le monde. Cela peut ne pas être illustré de manière
évidente, iconique mais l’essence est toujours présente.
Vlad : "Cidade" fut la toute première collaboration entre tous les
membres du line-up actuel, et tu y avais le statut de guest au vu de l’intitulé
"Sinistro & Patricia Andrade". Comment s’est produite cette
rencontre ? Quel regard poses-tu sur ce premier enregistrement
commun ?
Patricia : Au départ Sinistro est composé de trois musiciens : Rick Chain (guitariste),
Fernando Matias (bassiste/producteur) et Paulo Lafaia (batteur). Ensuite je
suis arrivée et tout de suite après Ricardo Matias (guitariste).
Rick Chain (guitariste) a
été voir un concert de Pedro e os Lobos dans lequel j’étais
vocaliste à l’époque. Plus tard a surgie l’invitation pour collaborer sur l’EP
“Cidade”. Je connaissais déjà
Fernando Matias (bassiste/producteur) et j’avais déjà collaboré ponctuellement
sur des enregistrements que Fernando avait produits. Disons qu’il existait des
références des deux côtés. Et en une après-midi, sur une esplanade lisboète,
Rick et Fernando ont parlé de l’EP et du désir de créer des expériences
ensemble, me donnant toute liberté créative. L’EP était quasiment achevé au
niveau composition et sur cette même composition j’ai commencé à écrire. Nous
sommes allés en studio et comme il m’a été dit, la liberté était totale. Et à
partir de là est né “Cidade”, de la
confiance, d’une rencontre d’univers qui paraissaient distincts et étaient si
proches.
Vlad : Comme je le disais précédemment
"Cidade" constitue un
concept-EP sur la magnifique cité lisboète et m’apparait comme une pièce
particulièrement évocatrice. Avez-vous envisagé de développer le concept au
travers d’un opus complet et/ou d’un complément cinématographique ?
Patricia : Je ne sais pas si cela ferait sens de le développer
et de le présenter comme un album. Le temps de “Cidade” fut ce temps-là et fut fondamental pour Sinistro, où Sinistro se situe aujourd’hui. Il
y a des choses qui ont leur temps et leur espace et sont spéciales durant ce
moment-là. Cela fait sens de les reproduire, de les maintenir vivantes. Les
développer… peut-être ont-elles dit tout ce qu’elles avaient à dire. Cependant,
comme l’on dit en portugais, une expression très populaire : "le
futur appartient à Dieu".
Déjà comme composant
cinématographique : nous serions vraiment flattés si quelqu’un le pensait comme
un objet artistique à développer cinématographiquement. Cidade I et Cidade II
sont de fait des musiques très spéciales pour Sinistro, et
pour l’instant nous voulons les maintenir vivantes en les jouant.
Vlad : L’âme portugaise est
particulièrement complexe et possède sa propre identité, notamment dans sa
façon de relier les questions de l’amour, de la mort et de la mélancolie. A ce
titre, comment perçois-tu la musique de Sinistro ? Comment la sens-tu
tissée à cette âme si atypique ?
Patricia : Basculant directement dans le cliché que nous sommes
un pays de poètes et que les thèmes qui nous sont les plus proches sont ceux
précités, Sinistro n’échappe pas à la règle.
Je pense qu’elles ne
cessent d’être des thématiques universelles, mais senties, dépeintes sous des
formes différentes. Et c’est ainsi que rentre en ligne de compte la culture
d’un pays. Sinistro ne peut fuir l’héritage de sa culture. C’est un état
intérieur collectif. L’amour, la saudade,
la mémoire, la mort, la mélancolie. Ces ressentis sont directs ou indirects
dans les paysages sonores, dans les textes, dans la voix, dans son tout.
Vlad : La musique portugaise est un
patrimoine précieux possédant une expression unique au monde. En voici quelques références triées sur
le volet : Amália
Rodrigues, Moonspell,
Madredeus, Ava Inferi, Ricardo Ribeiro… Que penses-tu de ces artistes
appartenant tantôt à la sphère classique, tantôt à une frange plus
contemporaine ? Quels artistes aimerais-tu mettre en valeur ici ?
Patricia :
Tous sont importants. Amália Rodrigues est évidemment un nom
incontournable pour que le fado, la musique portugaise soient mis en évidence
dans le monde. Madredeus a innové, réinventé le
concept de musique traditionnelle/fado. Moonspell s’est
affirmé noblement au sein du métal comme âme portugaise. Je mets en évidence
ces trois exemples parce que ce sont ceux que je connais le mieux. Et tous les
exemples cités ont fait que les amoureux de musique connaissent mieux notre
culture. A ce titre la musique est puissante et belle.
Vlad : Revenons un petit peu en arrière
avec le premier opus de Sinistro. Il est donc le seul enregistrement sans ta
présence et demeure d’ailleurs quasi intégralement instrumental. Quel regard
portes-tu sur lui et as-tu un attachement particulier à lui ?
Patricia : J’ai écouté le
premier album après l’invitation. J’en avais déjà entendu parler mais n’en
avais jamais écouté. C’est un album que j’ai découvert en l’écoutant. Ruas Desertas et O Dia Depois do Meu Funeral me sont restés dans l’oreille. Je l’ai
apprécié progressivement. Mes goûts musicaux ne sont pas particulièrement
"heavy".
Vlad : Sinistro a sillonné et sillonne
encore une partie de l’Europe. Vous avez notamment fait escale au Roadburn tout
comme plusieurs représentations au Portugal. Comment as-tu et qu’as-tu ressenti
durant cette tournée ?
Patricia : Depuis le lancement de l’album, qui s’est produit à
Lisbonne au Sabotage Club jusqu’au final de la tournée au Roadburn ont été de
merveilleuses expériences et toutes positives. Sinistro, avant ces dates n’avait fait que deux tentatives générales
ouvertes. Nous n’avions jamais joué sur scène. Ce fut une totale expérience.
Durant les premières dates, tu prends encore conscience, tu t’adaptes, tu sens
tout et en même temps un engourdissement. Je ne sais pas l’expliquer, le
définir. Il y a des choses qui ne s’expliquent pas. La seule chose que je
puisse dire c’est qu’il y a du bonheur là-dedans.
Le Roadburn fut le point
culminant, l’apogée. Tu es dans un festival culte, avec des groupes que tu
connais, d’autres dont tu as entendu parler. Et tu y es. Et soudain tu arrives
sur scène devant une salle pleine et tu ne t’y attendais pas ! Et au
final, tu ne te souviens plus, pourquoi tout est si grandiose, l’énergie, les
personnes, le moment. Ce fut une expérience que je ne saurais décrire, cela va
bien au-delà du rationnel. C’est un rituel, une communion et cela arrive
rarement. Surtout quand le public ne connait pas le groupe. Le Roadburn fut
très spécial.
Vlad : Sinistro s’est produit le 11 avril
dernier pour la toute première fois à Paris. Quel souvenir gardes-tu de cette
prestation à la fois brillante mais aussi confidentielle ?
Patricia :
Paris. Ce fut un concert intimiste. Peu de personnes. Mais ce fut un concert
avec une forte énergie, bien présente. Mon expérience de la scène vient du
théâtre. Je me suis déjà produite devant deux personnes. Il peut y avoir 1000
personnes et que rien ne se passe. Il peut en avoir 15 et que tout arrive.
Quand l’énergie et l’échange s’établissent c’est cela qui génère quelque chose
de ritualiste. A Paris cela s’est produit.
Vlad : Scéniquement tes prestations sont
assez imprégnées de ton jeu d’actrice. Cette dimension est puissante et
alimente parfaitement les univers musicaux développés par Sinistro. Quelle
articulation et peut-être quels points communs perçois-tu entre être actrice et
vocaliste ?
Patricia : Le fait d’être
actrice est fondamental. La conscience du corps, de la voix. Ce n’est pas
possible de les dissocier. Mon expérience en tant qu’actrice m’a permis de
vocaliser, de verbaliser ce que je suis dans Sinistro. Cela en fait partie. Si j’avais été dans Sinistro depuis 20 ans ce ne
serait pas pareil. Ce serait une boite fermée avec un nœud papillon qui chante.
J’ai 40 ans. Le développement personnel, l’expérience en tant qu’actrice et en
tant que personne en sont le résultat.
Vlad : Concernant le jeu de scène de
Sinistro, plusieurs points me semblent pertinents à relever, à commencer par
les projections en fond de scène. Certains groupes se contentent de faire du
remplissage alors que la démarche de Sinistro aboutit à une réelle cohérence
entre son et image. Qu’aurais-tu envie de nous dire sur ce point ?
Patricia :
Comme je l’ai dit auparavant pour Sinistro la
vidéo est une composante très importante. Le dialogue entre la musique et
l’image est quelque chose sur lequel nous voulions et voulons nous focaliser.
Pouvoir traduire en images ce que nous jouons, un dialogue entre musique et
image.
Vlad : Sur scène, Sinistro apparait avec
une exécution vocale et instrumentale très soignée et d’une grande précision,
comme si le groupe avait enchainé les tournées depuis fort longtemps. Comment
en êtes-vous arrivés et comment toi particulièrement en es-tu arrivée à telle
maitrise ?
Patricia : Nous tous avons
eu des groupes par le passé (moi, la plus "novice" dans la musique).
Ce furent des expériences très importantes pour que nous puissions avoir plus
grande conscience de jouer et d’être sur scène. Nous dirions que Sinistro en live c’est cela même :
l’expérience que nous avons tous acquis au long des années avec d’autres
groupes, d’autres projets et essais hebdomadaires pour développer et déterminer
ce qui fut produit sur disque. Expérience, dévotion et beaucoup de travail.
Vlad : S’il y avait un mot, une phrase ou
une image qui représenterait Sinistro selon toi, de quoi s’agirait-il ?
Patricia :
Communion.
Vlad : Comment perçois-tu et désirerais-tu
l’avenir du groupe ? Souhaiterais-tu partager avec nous d’autres projets
musicaux et/ou extra-musicaux ?
Patricia : Je ne pense pas
trop en termes futurs. Ce que Sinistro est en train de vivre en ce moment est unique et spécial.
Je suis en train de vivre ces jolis temps et m’en délecter tranquillement,
consciente. Il existe déjà une ébauche du prochain album et il s’agira de
travailler dans le même sens avec le même investissement et le même Amour avec
lesquels les précédents ont été faits. A propos d’autres projets, le temps le
dira. Le focus est sur le Présent, au sein de Sinistro.
Vlad : Au départ tu es actrice (encore
aujourd’hui à ma connaissance) et tu es donc venue explorer l’art musical dans
un second temps. Comment s’est produit tel cheminement ?
Patricia :
Le parcours en tant qu’actrice est venu avant la musique. J’ai toujours aimé la
musique et de chanter, toutefois les projets ont surgi plus tard. Le premier
projet avec des compositions enregistrées fut avec Volstad, mon
premier groupe. Il a toujours demeuré une volonté d’être dans la musique. Et la
voie est venue progressivement sans grandes expectatives. Et c’est en faisant
la rencontre de personnes qui souhaitaient créer, développer des projets. Intimist fut
un autre projet qui arriva quelques années plus tard qui fut très important et
j’en garde une affection particulière car il fut spontané et mon premier chant
en portugais. Ensuite a suivi Pedro e os Lobos avec lequel j’ai eu
l’opportunité d’être sur scène en tant que vocaliste. Tous dans des registres
différents musicalement parlant mais ils m’ont beaucoup enrichi comme
vocaliste.
Vlad : Centrons-nous à présent sur ton
chant si tu le veux bien. Sans vouloir te couvrir d’éloges, je le trouve d’une
qualité rare et d’une complexité exceptionnelle ; comme tu le sais déjà
d’ailleurs, sur scène il prend pour moi une ampleur toute particulière. As-tu
des sources d’inspiration particulières, qu’elles soient musicales ou
extra-musicales ?
Patricia : Merci une fois de
plus Vlad pour l’éloge. Il existe des inspirations. Dans la musique il y en a
plusieurs : Diamanda Galás, PJ Harvey, Jarboe, Maria Callas, Bach, Glenn Gould, Nick Cave, Type O Negative, Tom Waits. Voici quelques uns des artistes pour lesquels j’ai
beaucoup de respect et qui sont profondément inspirants. Ils interprètent,
vivent et sentent. En littérature Sartre pour la manière d’écrire, décrire, les mots résonnent de
façon très forte. Ensuite, non moins important, les personnes que je croise
dans les rues, les histoires que j’entends, elles sont toutes des inspirations.
L’"écoute" est une manière de t’inspirer. Si tu restes attentif à ce
qui t’entoure beaucoup de choses peuvent t’inspirer.
Vlad : Nous nous acheminons peu à peu vers
la fin de cette entrevue. Quelle question aurais-tu souhaité que je te
pose ? (je te laisse d’ailleurs le loisir d’y répondre si tu le
souhaites !) A contrario quelle question je n’aurais jamais dû te
poser ?
Patricia :
Je ne saurai répondre. J
Septembre 2016,
Dirigée et traduit par Vlad Tepes.
pour l'entièreté de son implication
dans la réalisation de cette entrevue.
Dirigée et traduit par Vlad Tepes.
Je tiens à remercier Patricia
- avec gratitude et chaleur -pour l'entièreté de son implication
dans la réalisation de cette entrevue.
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